Um conto Sufi
Um mestre Sufi contava sempre uma parábola no final de cada aula, mas os alunos nem sempre entendiam o seu significado.
- Mestre?- perguntou um deles, certo dia – tu contas-nos contos, mas nunca nos explicas o que significam.
- As minhas desculpas. – disse o Mestre – Como compensação, deixa-me oferecer-te um pêssego!
- Obrigado Mestre! – disse o discípulo comovido.
- Mais ainda: como prova do meu afeto, quero descascar-te o pêssego. Permites?
- Sim, muito obrigado. – disse o discípulo.
- E já que tenho a faca na mão, não gostarias que eu cortasse o pêssego em pedaços, para que seja mais fácil comê-lo?
- Sim, mas não quero abusar…
- Não é um abuso. Quero oferecer-te este gesto para te agradar. Permite-me também que mastigue o pêssego antes de to oferecer.
- Não Mestre! Não gostaria que o fizesses!
Para quem está prestes a iniciar uma nova ou a continuar uma etapa escolar, este pareceu-me um conto precioso!
Vejo alunos ávidos de saber e pais que procuram incessantemente respostas para as dificuldades dos filhos. Uma coisa parece não jogar bem com a outra.
Talvez seja tempo de repensar no papel do professor, dos pais, do educador…de quem leva as nossas crianças no colo da aprendizagem.
Seja académica ou para a vida, só se aprende pela emoção.
“Mastigar o pêssego” de um aluno é privá-lo de descobertas significativas, de conexões que só se efetivarão se for ele próprio a construir esse caminho.
Hoje, especialmente hoje, faço um apelo aos professores/educadores:
Reconheçam nas nossas crianças a sua capacidade de construção de conhecimento. Eles são capazes! Coloquem-lhes à disposição uma folha branca com um risco aleatório e uma caneta e surpreendam-se com os resultados! A criança é de natureza criativa.
Há poucos anos atrás, alguém definiu a profissão de professor como a mais inútil. Não estava completamente errado, se pensarmos um pouco… A criança é de natureza autodidata. Se quiser, aprende o que quiser. Se quiser. Se o professor for um orientador. Se lhe apontar direções fantásticas.
Não lhe mostra o caminho, mas abre-lhe a cortina da janela que muitas vezes, por diversos motivos, se encontra muito fechada. Trancada, eu diria.
O professor destranca a janela, até pode abri-la e até pode ajudar o aluno a pular para o outro lado. Daí para a frente, só uma palmada no rabinho, de encorajamento e segurança. “Estou aqui!”.
Não há criança que não goste de fruta descascada e cortada aos pedaços. Outras há que preferem comê-la inteira e com casca, por mais difícil que seja abrir os pequenos maxilares para abocanhar o maior pedaço.
Contudo, nenhuma criança desejaria comer fruta mastigada.
Um bem haja a todos os alunos, pais e professores que estão prestes a iniciar uma verdadeira aventura!